A dieta poderá ajudar no tratamento da Doença Bipolar?
Sabia que vegetais de folha verde-escura podem ajudar no tratamento da doença bipolar?
A alimentação tem cada vez mais sido reconhecida como uma valência na eficácia do tratamento de doenças do foro neurológico, com especial ênfase nas doenças psiquiátricas. Ainda existem poucos estudos que associem a relação direta entre o tipo de padrão alimentar e o estado clínico do doente bipolar, no entanto, os estudos realizados que indicam melhoria do paciente psiquiátrico com determinados nutrientes-chave poderão ser indicativos de uma extrapolação para a bipolaridade.
Alguns dos nutrientes chave e que alimentos podem ser relevantes no tratamento da Bipolaridade?
Os ácidos gordos polinsaturados ómega-3 têm sido referidos como um dos nutrientes chave na melhoria dos estados depressivos, o uso diário deste tipo de gorduras poderá não só prevenir quadros clínicos agudizados como atenuar crises recorrentes. A alimentação plant-based tem diversas fontes alimentares ricas em ómega-3, tais como frutos gordos (nozes, amêndoas, avelãs), sementes (cânhamo, chia, girassol, abóbora, sésamo). Uma colher de sopa de óleo de linhaça poderá fornecer a dose diária de ómega-3, no entanto, e se o paciente não gostar destas alternativas também existem suplementos naturais à base de algas.
Vitaminas do Complexo B com particular relevância da Vitamina B9 também conhecida como folato ou ácido fólico. Existem diversos estudos que indicam uma dieta rica em vegetais e frutas como benéfica para melhoria de quadros depressivos. Alimentos como as crucíferas (brócolos, couve portuguesa, couve lombarda) e todos os vegetais de folha verde-escura (espinafres, acelgas, canónigos, agrião, rúcula) devem ser incluídos diariamente de modo preventivo, preferencialmente em cru, em smoothies, saladas e adicionados em última instância a pratos já cozinhados como, por exemplo, um caril de grão, deste modo maximiza-se a biodisponibilidade dos nutrientes presentes e potencia-se o efeito benéfico no paciente.
O zinco tem sido cada vez mais referido pelo seu papel na função neuronal, sendo as principais doenças em pesquisa atualmente a depressão e a psicose. Mais estudos seriam precisos para correlacionar o seu papel direto na doença bipolar, no entanto, este nutriente encontra-se em carência em quase todos os pacientes com quadros clínicos depressivos quando a alimentação é pobre em fontes vegetais. Alimentos plant-based ricos em zinco temos as leguminosas (feijão, grão, lentilhas) que deverão ser o alimento de eleição mas também sementes e cereais como a quinoa.
Quais os maiores desafios da alimentação para o doente bipolar?
A dificuldade de estabilização do peso e alimentação dos doentes com bipolaridade está descrita como difícil pelo efeito da medicação, o ajuste da mesma traz muitas vezes como consequências desordens no padrão alimentar, quer na fragmentação de refeições, quer na escolha das mesmas. Tendencialmente, o doente bipolar opta por alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas e, consequentemente, são alimentos processados e menos ricos nos nutrientes chave referidos. Este padrão alimentar, que leva à satisfação momentânea do doente como resposta ao quadro clínico depressivo em que muitas vezes se encontra, pode conduzir a comorbilidades como obesidade, diabetes tipo II, hipercolesterolemia e hipertensão.
Conclusão:
A alimentação plant-based assegura todas as necessidades dos nutrientes chave referidos, no entanto, e apesar dos efeitos benéficos que foram supracitados é importante reforçar que ainda não existem guidelines específicas para a doença bipolar. Que a leitura deste texto não descura a necessidade do acompanhamento profissional na área da nutrição para ajuste de quantidades e avaliação do paciente, bem como o facto que a dieta prescrita deve ser concomitante com qualquer medicação receitada pelo médico que acompanha o doente.
O futuro pode passar pelo surgimento de uma nova área de pesquisa, já referida como nutripsiquiatria. Esta estudará o papel da nutrição na melhoria e progressão de quadros clínicos do foro psiquiátrico. Até surgirem novas descobertas nesta área, os alimentos-chave referidos trarão sempre benefícios aos pacientes pelos motivos já apresentados.
Raquel de Morais Carvalho Neto
Nutricionista Holmes Place Cascais
Referências bibliográficas:
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