Plant-Based Diet e asma: que alimentos a privilegiar e quais evitar?

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Apesar da asma ser uma doença sem cura, é possível atingir um controlo e tratamento adequado da mesma, de forma a melhorar a qualidade de vida. Seguir uma alimentação plant-based poderá ajudar nesse objetivo.

A alimentação Plant-Based incentiva o consumo de alimentos de origem vegetal na sua forma mais íntegra, natural, completa, não refinada e minimamente processada (contemplando alimentos como cereais integrais, vegetais, fruta, leguminosas, sementes, frutos oleaginosos e gorduras saudáveis), não incluindo alimentos de origem animal.


Recentemente, uma nova e ampla revisão publicada na Nutrition Review da Universidade de Oxford pôde analisar as associações entre a asma e consumo de alguns alimentos como frutas e vegetais, laticínios, ovos e gordura saturada, tendo sido evidenciada a alimentação de base vegetal como uma ferramenta poderosa para prevenir e controlar a asma, enquanto alguns produtos de origem animal como os produtos lácteos e outros alimentos com alto teor de gordura aumentam o risco e agravam os seus sintomas.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a asma consiste numa doença respiratória inflamatória crónica dos brônquios, resultante do estreitamento dos mesmos, provocando sensação de dificuldade respiratória e pieira.


Esta é uma doença que, de acordo com a informação da Organização Mundial de Saúde, afeta cerca de 235 milhões de pessoas no mundo de todas as idades e géneros, sendo que em Portugal calcula-se que atinja mais de 600.000 pessoas, desde crianças (11% das nossas crianças) a adultos (5% dos adultos).


Apesar de ser uma doença sem cura, é possível atingir um controlo e tratamento adequado da mesma, de forma a melhorar a qualidade de vida do paciente. Simultaneamente à tradicional abordagem farmacológica, é igualmente essencial a monitorização do estado nutricional, da atividade física, e da ingestão alimentar, sendo que a associação entre a alimentação e a asma tem sido abordada em diversos estudos ao longo dos anos, evidenciando alguns resultados promissores com potencial impacto clínico. 


Um dos primeiros trabalhos que sugeriu uma dieta de base vegetal como uma potencial opção de tratamento para pacientes asmáticos remonta a 1985 na Suécia, onde os seus autores testaram o efeito da alteração do padrão alimentar para uma alimentação de base vegetal do tipo vegan num conjunto de 35 pacientes com asma brônquica grave ao longo de 1 ano. Verificou-se uma melhoria significativa em diversas variáveis clínicas, incluindo sobretudo medidores da função pulmonar, bem como uma significante descida de anticorpos associados ao processo alérgico (como a IgE e ESR), a melhoria dos valores de colesterol, da pressão arterial e o emagrecimento de uma média de 8 quilos por paciente.


Plant-based e asma


Prevenir e tratar a asma com alimentos de base vegetal

A evidência científica acumulada, incluindo um estudo internacional de asma e alergias na infância e adolescência, que contemplou mais de um milhão de crianças, revelou como fator protetor, entre as taxas de prevalência de asma, alergias e eczema, a ingestão de alimentos amiláceos, cereais e naturalmente ricos em antioxidantes como frutas e hortícolas.


A variação do consumo de alimentos ricos em antioxidantes demonstrou também afetar diretamente o estado do paciente asmático, sendo que a omissão de alimentos ricos nestes componentes, mesmo por um período curto de tempo (10 dias), levou ao agravamento de alguns sintomas da asma. 


Por outro lado, o paciente asmático sujeito ao consumo reforçado de uma alimentação rica antioxidantes (com 5 porções de vegetais e 2 porções de frutas) ao invés de uma dieta pobre em antioxidantes (2 ou menos porções de vegetais e 1 porção de fruta), teve a sua taxa de exacerbação asmática reduzida para metade.


Dentro desses antioxidantes provenientes da alimentação podemos incluir nutrientes como a vitamina E e C, carotenoides, flavonoides e selénio, associados positivamente à função pulmonar em pacientes com e sem asma. De igual modo o aumento de ingestão de fontes alimentares de magnésio e uma dieta pobre em sal estão associados a um efeito positivo na asma com a melhoria da função pulmonar em pacientes com asma induzida pelo exercício.


As dietas de base vegetal, por enfatizarem o consumo de alimentos como frutas, vegetais e cereais integrais são igualmente ricas em fibras, o que tem sido positivamente associado a melhorias na função pulmonar.


Em pacientes asmáticos, a inflamação sistémica encontra-se associada a piores desfechos clínicos, no entanto, as dietas de base vegetal potenciam os marcadores anti-inflamatórios e reduzem as moléculas pró-inflamatórias, onde nutrientes como ácidos gordos insaturados (sobretudo presente em alimentos como o azeite, sementes e óleo de linhaça, abacate, azeitonas, nozes e sementes de chia) e antioxidantes obtidos de alimentos de origem vegetal têm revelado o seu potencial anti-inflamatório e como atenuantes das condições desencadeadas pela resposta inflamatória sistémica. 


Alimentos a evitar no controlo e tratamento de asma

Plant-based e asma | Holmes Place


Os resultados de um estudo piloto que analisou o efeito em crianças asmáticas da exclusão do consumo de leite, seus derivados e ovos durante 8 semana, revelaram a melhoria de uma média de 20% no seu pico de fluxo expiratório, não tendo contudo sido significativamente alterado nos controles, carecendo então esta potencial conexão entre laticínios e sintomas clínicos de estudos em larga escala e de maior duração.


Os mecanismos pelos quais os produtos lácteos influenciam o desenvolvimento ou curso da asma não estão ainda claros, podendo incluir uma associação positiva entre o consumo de proteínas ou gorduras do leite e seus derivados e a interleucina pró-inflamatória 17F, que por sua vez desempenha um papel mediador no desenvolvimento da asma.


Uma alimentação rica em gorduras saturadas, sódio e pobre em fibras e hidratos de carbono encontra-se relacionada com a reatividade brônquica em pacientes asmáticos, enquanto uma dieta de base vegetal se encontra associada com taxas inferiores.

Contudo, até ao presente momento, a evidência científica direta que avalia a prevenção e controlo da asma através da alimentação, nomeadamente de base vegetal, carece ainda de estudos de intervenção de forma a confirmar e fundamentar estas associações.


Tatiana Cunha

Nutricionista Holmes Place Coimbra


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