Qual a relação entre o selénio e a tiroide?

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Sabia que a tiroide é o órgão com maior concentração de selénio?

A tiroide, é uma das maiores glândulas do corpo humano, localizada na base do pescoço e cuja forma se assemelha a uma borboleta. É responsável pela produção de duas hormonas, que provocam o aumento de reações metabólicas essenciais à vida, a triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina). A T4 e T3 têm funções muito semelhantes, embora a T3 seja três a oito vezes mais potente.


Estas hormonas tiroideias têm um papel fundamental em todo o nosso organismo, nomeadamente:

- Na manutenção do peso corporal.

- No crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes.

- Nos ciclos menstruais e fertilidade.

- Na memória e concentração.

- No humor e controlo emocional.

- Na frequência cardíaca, respiratória, pressão arterial e funcionamento do intestino.


Quando há diminuição da produção de hormonas tiroideias (hipotiroidismo), os órgãos tendem a reduzir as suas funções, por outro lado perante um excesso hormonal, há um aumento desta atividade (hipertiroidismo). 


O correto funcionamento da tiroide, depende, além de outros fatores, da presença de nutrientes essenciais como o iodo, o selénio, o zinco, o magnésio, o ferro, o cobre e o cálcio.


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Em 1990, o selénio foi identificado como um componente de uma enzima que ativa as hormonas tiroideias. Desde esta descoberta, que a relevância do selénio na saúde tiroideia tem sido largamente estudada. 

A tiroide, é o órgão com maior concentração de selénio, uma vez que este, é um constituinte de algumas proteínas (selenoproteínas), com funções importantes como antioxidantes (ao removerem os radicais livres formados durante a produção de hormonas tiroideias), anti-inflamatórias e no metabolismo de hormonas tiroideias (conversão de T4 em T3).


Nos doentes com tiroidite de Hashimoto, condição associada à presença de anticorpos anti tiroideus e com provável evolução para hipotiroidismo, o consumo adequado ou suplementação de selénio, tem demonstrado um efeito benéfico, levando à redução dos anticorpos produzidos e à diminuição da evolução para hipotiroidismo. O mesmo efeito tem sido demonstrado, no pós-parto, com diminuição significativa das tiroidites pós-parto e da progressão para hipotiroidismo definitivo. No entanto, não existe ainda uma recomendação para suplementação com selénio em doentes com tiroidite autoimune ou hipotiroidismo.


Na Doença de Graves (hipertiroidismo autoimune), a suplementação com selénio já é utilizada há vários anos, uma vez que vários estudos têm demonstrado que os doentes que utilizam a combinação de suplementação de selénio com medicamentos que inibem a síntese de hormona tiroideia, atingem mais rapidamente o eutiroidismo. A suplementação é ainda recomendada na orbitopatia de Graves (manifestação ocular da doença de Graves). Nestes casos, a suplementação tem demonstrado melhorar a qualidade de vida e um atraso na evolução da orbitopatia.


Níveis baixos de selénio, têm sido ainda associados em alguns estudos, ao aumento do risco de bócio e de desenvolvimento de nódulos na tiroide. 

A concentração de selénio no organismo depende de várias características populacionais, nomeadamente, da dieta e da área geográfica (dependente da composição dos solos). 


Qual a relação com a alimentação?

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Uma alimentação completa, equilibrada e variada é capaz de suprir as necessidades nutricionais de selénio, sendo as suas principais fontes alimentares: castanhas do pará, sementes, ovos, carne, peixe, cereais e lacticínios.

Nos casos em que é necessária a suplementação, os compostos orgânicos de selénio (selenometionina e selenocisteína) parecem ter melhor absorção e por isso ser mais indicados do que os compostos inorgâncios (selenito e selenato).


Alguns estudos têm demonstrado uma relação na forma de U entre a concentração sanguínea de selénio e o risco de doença, com potenciais malefícios a ocorrer tanto com níveis baixos, como excessivos. Apesar da suplementação poder ser recomendada em indivíduos com carência confirmada, por outro lado, o seu consumo excessivo, pode levar a efeitos adversos como hiperglicemia e aterosclerose. 


O nutricionista, deve avaliar a história clínica de cada individuo, e recomendar as alterações necessárias à alimentação de forma a garantir um consumo adequado de selénio, uma vez que uma concentração fisiológica deste micronutriente é um pré-requisito necessário para prevenir doenças tiroideias, mas também para a manutenção da saúde no geral.


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Joana Margalho

Nutricionista Holmes Place Algés

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