Sabe em que consiste o bloating?

O bloating é considerado como o sintoma gastrointestinal mais comum, saiba quais as melhores estratégias para evitá-lo.

A maior parte de nós já experienciou o bloating, quer seja de uma forma mais pontual, através de excessos alimentares ou longos períodos sentados, quer seja de forma crónica. No entanto, esta última pode indicar a existência de algum problema digestivo ou patologias como sibo (small intestinal bacterial overgrowth), sii (síndrome do intestino irritável), dii (doença inflamatória intestinal), ou pode ser um sinal que a dieta esteja pouco equilibrada. sabemos também que afeta indivíduos de todas as idades e que tem uma sintomatologia diversa, onde a sua origem, gravidade e consequências podem ser muito discrepantes de indivíduo para indivíduo. 

Apesar da sua elevada ocorrência na prática clínica, ainda é algo pouco compreendido e as abordagens de tratamento também podem variar bastante, no entanto, algumas são abordadas como boas estratégias para evitar o bloating mais ligeiro. 

Em 1949, surgiu a definição de bloating descrita um desconforto subjetivo através do aumento da pressão na cavidade abdominal com ou sem uma distensão abdominal visível. Porém, nos últimos anos, esta definição sofreu uma ligeira alteração, onde o bloating não está diretamente relacionado com a distensão abdominal. Assim sendo, podemos estar perante uma situação de bloating, sem que exista um aumento visível do perímetro abdominal. Habitualmente, é descrita como uma sensação de abdominal pesado ou cheio, desconfortável, incómoda, e por vezes, até dolorosa.

Que fatores influenciam o bloating?

Sabemos que existem vários fatores que parecem influenciar esta condição. Entre eles, temos o nosso microbioma intestinal (flora bacteriana), produção de gás intestinal, motilidade intestinal (trânsito intestinal), hipersensibilidade, reflexos anormais no tecido neuronal periférico, o enfraquecimento da musculatura abdominal, entre outros.

O nosso microbioma intestinal, para além de desempenhar um papel importante na nossa imunidade, também tem um grande papel no bloating, pelo facto de conter mais de 500 espécies bacterianas diferentes, maioritariamente anaeróbias, que libertam como um bioproduto gás.

Os últimos estudos demonstram que existem dois tipos de ecossistemas no nosso microbioma intestinal: luminal e mucos0, sendo que o primeiro está mais relacionado com o bloating, devido a processos de fermentação e produção de gás, ocorrerem mais acentuadamente nesse ecossistema bacteriano. Muitos estudos apontam o bulking intraluminal como uma das causas para o bloating e distensão abdominal. E ao aprofundarmos este aspeto, percebemos que a dieta tem um papel fundamental.

Em primeiro lugar, por contribuir para uma motilidade intestinal mais reduzida, levando a que o conteúdo fecal passe mais tempo, do que o suposto, no intestino e acabe por ser sujeito mais tempo a processos fermentativos, resultando numa maior produção de gás. Em segundo lugar, por alguns hidratos de carbono serem mais difíceis de digerir, alguns tipos de fibras, que quando consumidas em grande quantidade, o conteúdo não absorvido esteja mais tempo sujeito à flora intestinal e seja também fermentado por mais tempo. É frequente numa fase de transição entre dietas, ocorrer uma situação de bloating, pelo facto de o intestino não estar habituado a fazer a digestão de um alto teor de fibras, mas após algum tempo acaba por estabilizar.

Por outro lado, pode existir uma hipersensibilidade intestinal, através de alguma intolerância alimentar, como por exemplo à lactose, ou através de uma má absorção de alguns açúcares e hidratos de carbono de cadeia curta, FODMAPs (Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides And Polyols). Nestes casos, uma abordagem nutricional personalizada e avaliando a evolução de forma constante, apresentam resultados bastante positivos na sintomatologia dos indivíduos.

Outras questões físicas também podem contribuir para o bloating, como uma lordose lombar acentuada ou o enfraquecimento do tecido muscular da parede abdominal, originando reflexos anormais no diafragma abdominal, alteração dos componentes presentes na cavidade no mesmo e o seu volume, aumentando a pressão na cavidade abdominal e/ou distensão visível do seu perímetro.

Da mesma forma, questões psicológicas, estado emocional e alterações de estilo de vida podem contribuir para o bloating, tais como elevados níveis de stress e ansiedade, depressão, má comunicação entre o eixo intestino-cérebro e uma elevada ingestão de ar.

Quais a estratégias a seguir para o evitar?

Para terminar, deixamos-lhe algumas estratégias de como evitar o bloating, no entanto, caso o mesmo persista, aconselhamos-lhe a procurar a ajuda de um nutricionista e/ou um gastroenterologista para avaliar o seu caso, mais em detalhe.

- Coma pausadamente e de forma consciente, evitando estar em simultâneo a ver televisão ou no seu telemóvel.

- Mastigue bem os alimentos.

- Prefira pequenas porções e coma várias vezes ao dia.

- Limite o consumo de pastilhas elásticas. 

- Limite o consumo de bebidas gaseificadas.

- Garanta uma boa ingestão de água, entre 1,5L a 2L por dia.

- Tenha em atenção o consumo de álcool.

- Consoma um aporte de fibras adequado, entre 20 e 30 gramas diariamente.

- Exercite-se como regularidade.

- Evite longos períodos sentado.

- Esteja atento aos sinais do seu corpo lhe vai dando.

- Procure ter um estilo de vida equilibrado.

Catarina Nascimento

Nutricionista Holmes Place Oeiras

Referências Bibliográficas:

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