AVC e alimentação, qual a relação?
Sabia que estudos recentes têm demostrado que uma alimentação saudável pode reduzir em aproximadamente 80% o risco de AVC?
O AVC (Acidente Vascular Cerebral) corresponde a uma interrupção súbita do fluxo sanguíneo para o cérebro que resulta em lesão da região cerebral alimentada por esse vaso; provocada por entupimento do vaso (consequência de trombose ou embolia) ou hemorragia (rompimento do vaso).
Segundo a Direção Geral da Saúde (DGS), o AVC representa uma das principais causas de morte em Portugal, sendo também a principal causa de morbilidade no conjunto das doenças cardiovasculares.
Os fatores de risco para o desenvolvimento de AVC podem ser categorizados como modificáveis e não modificáveis. Dentro dos fatores não modificáveis estão a idade, género (maior prevalência em homens), fatores genéticos e raça / etnia, enquanto que hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidémia, hábitos tabágicos, hábitos alimentares desadequados e sedentarismo representam alguns dos fatores de risco modificáveis mais comumente relatados.
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia destaca como medidas preventivas para AVC:
- Manutenção de uma alimentação saudável
- Prática de exercício físico regular (o sedentarismo representa um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares)
- Monitorização do desempenho cardiovascular – Os níveis de colesterol total devem ser mantidos abaixo de 190mg/dL, e os valores da pressão arterial devem ser controlados com uma pressão sistólica (a máxima) inferior a 130 mmHg, e a pressão diastólica (a mínima) deve ser inferior a 85mmHg
-Deixar de fumar
AVC e alimentação, qual a relação?
A promoção de uma alimentação e estilo de vida saudáveis é fundamental para a prevenção do AVC. De facto, estudos recentes têm demostrado que uma alimentação saudável pode reduzir aproximadamente 80% o risco de AVC. É importante também referir que, segundo a American Heart Association, é possível prevenir em 80% a ocorrência de segundos eventos se o estilo de vida for modificado para hábitos mais saudáveis de alimentação e de exercício físico. Para além disso, um ambiente familiar pouco saudável enraiza hábitos que favorecem fatores de risco comuns. Desta forma, a aquisição de hábitos alimentares saudáveis é importante não só a nível individual como para toda a família.
Uma das maiores preocupações e riscos para a saúde em Portugal é o consumo excessivo de sal. O sal em excesso aumenta o risco de hipertensão arterial e de doenças cardiovasculares, nomeadamente de AVC. A Organização Mundial da saúde recomenda que o consumo de sal não exceda as 5g/ dia. A leitura correta de rótulos, a substituição de sal por ervas aromáticas, a diminuição gradual da quantidade de sal que se adiciona durante a confeção das refeições e não levar o sal para a mesa são medidas importantes para a redução do consumo de sal.
Além disso, é importante reconhecer os benefícios de adotar e manter uma alimentação completa, variada e equilibrada. É importante reduzir também o consumo de gorduras saturadas e açúcares e ter uma alimentação rica e variada em fruta da época, vegetais e legumes. Ao longo do dia devem ser incluídas 5 a 6 refeições de pequenas porções.
Estudos científicos atuais têm demostrado com robustez crescente que a adoção do padrão alimentar mediterrânico está associado a menor progressão de doença vascular e elegem este padrão alimentar como aquele capaz de atingir o equilíbrio entre as necessidades nutricionais, proteção da saúde e sustentabilidade ambiental.
Evidência atual também tem demostrado que pacientes com elevado risco de desenvolver AVC beneficiam com a adoção da alimentação Plant-based. Este tipo de alimentação privilegia o consumo de produtos de origem vegetal como cereais integrais, fruta, vegetais, leguminosas, frutos secos, sementes e gorduras saudáveis. Além disso, está associada a uma redução do consumo de produtos de origem animal como lacticínios, ovos, carne, peixe e também se foca na escolha de alimentos menos processados, locais e sazonais.
A alimentação Plant-based está associada a uma redução significativa do risco de obesidade, hiperlipidemias, hipertensão e diabetes, todos fatores de risco responsáveis pela elevada prevalência de AVC. Desta forma, pessoas suscetíveis a desenvolver AVC devem ser corretamente educadas para a adoção deste padrão alimentar com adequação dos valores de vitamina B-12.
Como equilibrar a alimentação e reduzir o risco de ocorrência de AVC?
- Hortofrutícolas como elementos centrais da alimentação: Ricos em micronutrientes, fibra alimentar e compostos bioativos, importantes para a proteção contra doenças cardiovasculares. Estudos científicos têm demostrado uma relação inversa entre o consumo de hortofrutícolas e a ocorrência de AVC.
Estes alimentos podem ser incluídos nas refeições principais e também em lanches e devemos privilegiar sempre a sazonalidade e acessibilidade local.
- Cereais integrais: Devemos privilegiar a escolha de cereais pouco refinados e integrais, uma vez que apresentam maior teor em fibra alimentar e maior teor em determinados nutrientes.
- Azeite: Literatura recente tem destacado o azeite virgem como protetor cardiovascular. O azeite deve ser a escolha primordial para confeção e tempero. No entanto, o seu consumo deve ser moderado e adequado às necessidades diárias de cada pessoa devido à sua elevada densidade calórica.
- Frutas Oleaginosas: Ricas em vitamina E, fibras, fitoquímicos, cobre e magnésio. Igualmente ao azeite, o seu consumo diário é aconselhado mas deverá ser moderado e adequado às necessidades diárias de cada pessoa.
- Leguminosas: Apresentam baixo índice glicémico, elevado teor em proteína e baixo teor em gordura. Apresentam uma excelente alternativa à carne quando combinadas com cereais e derivados para equilibrar o perfil de aminoácidos. Deverão fazer parte da alimentação diária nas refeições principais.
- Ervas aromáticas: A sua utilização na confeção de alimentos permite a redução do teor de sal e conferem aroma e cor às refeições. Além disso também são ricas em algumas vitaminas e micronutrientes.
-Cogumelos: Apresentam propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e são ricos em fósforo, potássio, selénio e vitamina D.
- Água: como principal bebida ao longo do dia.
Considerações finais
O AVC é evitável, os fatores de risco são conhecidos e as medidas preventivas têm impacto importante na redução do risco. Assim, podemos concluir que é fundamental modificar comportamentos e estilos de vida, responsáveis pela elevada prevalência dos fatores de risco e estes pela elevada incidência de AVC em Portugal.
Referências e fontes:
- Nutrimento: Dia Nacional do Doente com AVC – Uma alimentação e estilo vida saudável são essenciais para a prevenção do AVC, 2018
- Fundação Portuguesa de Cardiologia: Evitar o Acidente Vascular Cerebral
- Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral
- Campbell T. A plant-based diet and stroke. J Geriatr Cardiol. 2017 May;14(5):321-326. doi: 10.11909/j.issn.1671-5411.2017.05.010. PMID: 28630610; PMCID: PMC5466937.ral
- Zong G, Gao A, Hu FB, et al. Whole grain intake and mortality from all causes, cardiovascular disease, and cancer: a meta-analysis of prospective cohort studies. Circulation 2016; 133: 2370–2380.
- Micha R, Wallace SK, Mozaffarian D. Red and processed meat consumption and risk of incident coronary heart disease, stroke, and diabetes mellitus: a systematic review and metaanalysis. Circulation 2010; 121: 2271–2283.
- American Heart Association
- Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável Padrão Alimentar Mediterrânico: Promotor de Saúde, 2016
- Barros, V., et al., Dieta Mediterrânica - Um património civilizacional partilhado. 2013.
- Bellisle, F., Infrequently asked questions about the Mediterranean diet. Public Health Nutr, 2009. 12(9A): p. 1644-7.
Bárbara Pereira
Nutricionista Holmes Place Arrábida