Cancro da mama e alimentação
Estudos demonstram que manter um peso e uma composição corporal considerada saudável, ser fisicamente ativo, seguir uma dieta rica em fibras e reduzir a ingestão de gorduras pode melhorar a sobrevida após o diagnóstico de cancro da mama.
A doença oncológica afeta cerca de 24.5 milhões indivíduos em todo o mundo e tem cariz multifactorial. Dado ao envelhecimento da população e ao estilo de vida desta é notório um aumento da incidência da patologia oncológica nos últimos anos.
As causas evitáveis de cancro são o tabaco, a exposição solar, os padrões alimentares, a obesidade e o consumo de álcool sendo importante a intervenção na educação da sociedade referente a esta patologia.
Cancro da Mama
O cancro da mama é o segundo cancro mais comum em todo o mundo e no que diz respeito ao sexo feminino é o cancro mais prevalente.
Este tipo de cancro apresenta uma maior incidência na Europa Ocidental e na América do Norte, estando aumentando nos países em desenvolvimento, uma vez que a sociedade adota estilos de vida ocidentais e a esperança média de vida é superior. Através do diagnóstico precoce é possível reduzir a taxa de mortalidade.
No entanto, indivíduos que tenham vencido o cancro apresentam risco aumentado de recorrência, de aumento de peso e de desenvolver outras comorbilidades, como doenças cardiovasculares ou distúrbios metabólicos.
Fatores de risco:
⁃ Estilo de vida;
⁃ Hábitos alimentares inadequados;
⁃ Excesso de peso;
⁃ Baixos níveis de atividade física.
Fatores não modificáveis:
- Idade avançada;
- Predisposição genética (mutações de DNA e história familiar de cancro da mama);
- Menarca precoce (< 12 anos);
- Menopausa tardia (> 55 anos);
- Idade da primeira gravidez (> 30 anos);
- Infertilidade.
Fatores modificáveis (estilo de vida):
- Escolhas alimentares;
- Sobrepeso ou obesidade.
A Dieta e o Cancro da Mama
Vários estudos avaliaram a relação entre alimentos específicos (álcool, frutas, vegetais, carne, alimentos à base de soja) e o desenvolvimento de cancro da mama. No entanto, nenhuma associação foi estabelecida, exceto para a ingestão de álcool. No entanto, o tipo de dieta adotada pelo indivíduo pode ter um impacto significativo na propensão para o cancro da mama.
A adoção de um padrão alimentar saudável, baseado no consumo de frutas, vegetais, leguminosas, carnes brancas e pescado, e na redução do consumo de carnes vermelhas, alimentos refinados, doces e laticínios com alto teor de gordura, podem melhorar o prognóstico geral e a sobrevida de mulheres diagnosticadas com cancro da mama. Além disso, a prática de atividade física também está associada a uma maior probabilidade de sobrevivência nos doentes com cancro da mama.
A deficiência de vitamina D é comum entre doentes com cancro da mama e é considerada um fator de prognóstico negativo.
Terapêutica para doentes com cancro
Estudos demonstram que manter um peso e uma composição corporal considerado saudável, ser fisicamente ativo, seguir uma dieta rica em fibras e reduzir a ingestão de gorduras pode melhorar a sobrevida após o diagnóstico de cancro da mama.
A intervenção nutricional em doentes com cancro é fundamental, garantindo um aporte energético e nutritivo adequado durante o tratamento de quimioterapia.
Associar a prática de atividade física à adoção de um estilo de vida saudável podem reduzir os efeitos colaterais dos tratamentos e promover a saúde e o bem-estar, reduzindo as comorbilidades advindas da patologia, como por exemplo a obesidade, hipertensão, hiperlipidemia e diabetes mellitus.
O sedentarismo e os hábitos alimentares inadequados, caracterizados pela ingestão excessiva de alimentos altamente calóricos (ricos em açúcar e gorduras saturadas) e a redução da ingestão de alimentos considerados saudáveis (como hortícolas e fruta) resultam por vezes num ganho de peso, levando a estados de excesso de peso ou obesidade.
Tanto na prevenção como em estado patológico, é recomendada a adoção de um padrão alimentar saudável caracterizado por elevada ingestão de vegetais, frutas, leguminosas e pescado e a ingestão reduzida a moderada de produtos lácteos, carnes vermelhas e álcool.
Frutas e vegetais
O aumento do consumo de frutas é benéfico devido às quantidades consideráveis de polifenóis e fibras, prevenindo a carcinogênese.
Carne vermelha
O consumo de carnes vermelhas e processadas é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de cancro da mama, privilegiando-se o consumo de carnes brancas.
Gordura
O elevado teor de gordura saturada na dieta está associado ao aumento do risco de mortalidade de doentes com cancro da mama. No entanto, a ingestão de ômega-3 está inversamente associada à mortalidade, sendo considerado um fator protetor.
Álcool
Estudos revelam que o consumo de álcool independentemente do tipo de bebida consumida (cerveja, vinho ou destilados) está associado ao aparecimento de cancro da mama e a um aumento da mortalidade.
Soja
Recomenda-se a ingestão de produtos à base de soja (aproximadamente 30g/dia), uma vez que demonstram efeito benéfico em mulheres com cancro da mama.
Sintomatologia Associada ao Tratamento
O tratamento tem uma duração entre 3 a 6 meses e geralmente resulta no aparecimento de efeitos colaterais, incluindo náuseas, vómitos, perda de apetite, boca seca e alterações do paladar e olfato. O aumento de peso é bastante comum e está associado a um efeito negativo na qualidade de vida das mulheres e na sobrevida.
O excesso de peso e a obesidade durante a quimioterapia pode ser prejudicial pois pode influenciar outras condições médicas, como diabetes, doenças cardíacas, hipertensão e hipercolesterolemia.
Por outro lado, indivíduos com magreza e que realizem o tratamento podem ter sintomas que, consequentemente, vão reduzir a ingestão alimentar, podendo resultar em desnutrição, redução da imunidade, stress emocional e baixa qualidade de vida.
Durante os tratamentos, as mulheres relatam preferências alimentares alteradas e, tendencialmente, ingerem menor quantidade de proteína e gordura.
Estratégias Para Aumentar A Ingestão Alimentar
Um aconselhamento nutricional adequado pode auxiliar os indivíduos na adoção de estratégias adequadas a fim de aumentar a palatabilidade dos alimentos. Algumas estratégias para tornar as refeições mais agradáveis passam por adicionar sabores artificiais, comer refeições menores e mais frequentes, utilizar especiarias, comer mais alimentos fervidos, comer doces antes das refeições, ingerir bebidas açucaradas, sumo de limão, pastilha elástica, hortelã, utilizar talheres de plástico, cozinhar em panelas e frigideiras não metálicas de forma a reduzir o sabor metálico reportado pelos doentes.
Além disso, os doentes devem manter uma boa higiene oral antes das refeições e utilizar elixir bucal para evitar alterações no paladar.
Deficiência em Micronutrientes
Alguns medicamentos quimioterápicos podem causar depleção de zinco, o que contribui para a perda do paladar. A suplementação de zinco pode ser útil para doentes submetidos à quimioterapia com o intuito de melhorar a percepção do paladar.
Nas mulheres com cancro da mama a densidade óssea pode ser afetada pela menopausa induzida pela quimioterapia. Assim, pode ser recomendada a suplementação de vitamina D e cálcio com o objetivo de melhorar a densidade óssea e diminuir o risco de fratura.
A intervenção nutricional é um fator chave determinante no prognóstico de cancro e na melhoria da qualidade de vida. Uma dieta equilibrada aliada a uma prática de atividade física e um controlo rigoroso do peso desempenham um papel fulcral na melhoria da sobrevida de doentes com cancro da mama.
A nutrição é considerada parte integrante da abordagem terapêutica, com o objetivo de reduzir o risco de recorrência, de mortalidade e de desenvolvimento de outras doenças crónicas.
Uma maior adesão ao padrão de dieta mediterrânica, por parte dos sobreviventes de cancro da mama, pode reduzir a recorrência de cancro, a mortalidade por cancro e as comorbilidades associadas.
Neste tipo de doença a nutrição tem um papel considerável na recuperação e no bem-estar dos doentes, não devendo ser vista como uma cura mas sim como um coadjuvante ao tratamento. Desta forma, realizar uma dieta equilibrada e rica em nutrientes é fundamental para assegurar a manutenção do estado nutricional e o bem-estar do doente.
Referências Bibliográficas:
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Adriana Gomes
Nutricionista Holmes Place Coimbra