O que é o Binge Eating?

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Será que sofre de Binge Eating e não sabe? Descubra em que consiste.

O termo Binge Eating, também conhecido como transtorno da compulsão alimentar periódica, foi recentemente incluído no novo manual de classificação de doenças mentais (DSM V) constitui um distúrbio do comportamento alimentar caracterizado principalmente por episódios de ingestão descontrolada de comida, pelo menos 2 dias por semana durante pelo menos 6 meses, ocasionando normalmente no aumento de peso.


A grande ingestão de comida não se deve a fome física, mas sim a uma vontade incontrolável e inexplicável de comer, à qual tendem a seguir-se sentimentos de culpa e vergonha, o que leva a que muitos destes episódios aconteçam quando a pessoa está sozinha. A compulsão ou voracidade alimentar assemelha-se à bulimia no que respeita à elevada ingestão de alimentos, mas ao contrário desta, não é provocado o vómito nem é feito qualquer tipo de comportamento compensatório do excesso alimentar. 


Sintomas comportamentais do Binge Eating

Incapacidade de parar de comer ou de controlar a ingestão alimentar;

• Consumo de grandes quantidades de alimentos num curto período de tempo;

Comer mesmo quando já se sente saciado, até se sentir desagradavelmente cheio;

Comer sozinho por se sentir envergonhado pela sua voracidade;

Comer continuamente ao longo do dia, sem ter refeições planeadas;

• Sentir stress ou tensão que só é aliviada ao comer de forma voraz;

Sentir-se entorpecido enquanto come, como se estivesse no “piloto automático”;

Nunca se sentir satisfeito, independente da quantidade de alimento que ingere;

Sentir-se envergonhado, culpado ou deprimido depois da ingestão compulsiva;

Sentimento de desespero para controlar o peso e os hábitos alimentares.


Até à data, pouco se sabe sobre os mecanismos que conduzem ao Binge Eating, contudo estes parecem associar-se à presença de afeto negativo e restrição alimentar prévia. E parecem existir outros precipitantes, nomeadamente: acontecimentos interpessoais stressantes; sentimentos negativos associados ao peso, forma corporal e tédio.


Salada | Binge Eating | Holmes Place


Estratégias a seguir

A prevalência do Binge Eating é estimada entre 1,1-1,9% da população em geral. Trata-se de um distúrbio alimentar que consiste em muito mais do que apenas ansiedade ou no comer de forma exagerada, sendo importante ressaltar que o seu tratamento vai muito além da identificação de gatilhos. No entanto verificam-se que são muitas as pessoas, que identificam algum tipo de comportamento alimentar compulsivo pontualmente, e receiam o desenvolvimento de distúrbios alimentares. Portanto devem procurar melhorar o seu relacionamento com a alimentação a longo prazo, e aqui estão algumas estratégias para o fazê-lo. 


1. Evitar dietas muito restritivas. A privação e a fome que acompanham uma dieta restritiva desencadeiam desejos por alimentos designados como “proibidos” que despertam a perda do controle.


2. Concentrar-se em comer com moderação. É importante comer com intenção de saciar a fome, centrando-se na saciedade e nos sinais que o corpo transmite antes, durante e após a alimentação. Encontre alimentos nutritivos que realmente goste e coma apenas até sentir-se saciado, e não desconfortavelmente cheio.


3. Alimentar-se de forma mais consciente. Também conhecido como mindful eating, que consiste em direcionar o indivíduo às atitudes de atenção plena em relação a comida, de forma a estar presente no momento e realmente apreciar cada etapa da alimentação. 


4. Diferenciar fome física de fome emocional. Antes de se alimentar, pergunte a si mesmo: "Estou com fome?" A fome física é a maneira do seu corpo lhe dizer que os níveis de energia estão a ficar baixos e que é hora de reabastecer. Por seu lado, a fome emocional é a vontade de diminuir a sensação do desconforto emocional através da comida, ou seja, representa o desejo. Se estiver realmente com fome, coma! O seu objetivo não é comer menos, mas parar de comer quando a fome passar. Para isso, concentre-se no uso de alimentos para a finalidade a que se destina: nutrição.


5. Combater o tédio. Em vez de fazer um lanche quando se sentir entediado, distraia-se. Ligue para um amigo, leia ou adote um novo hobby por exemplo.


Mulher a comer salada | Binge Eating | Holmes Place


6. Comer com atenção. Enquanto come, evite usar seu telefone ou computador, não leia livros ou revistas e mantenha a TV desligada. É comum comer distraído, embora possa parecer inofensivo, normalmente terminar de comer sem lembrar o que comeu, sem lembrar do sabor, se gostou ou não e a quantidade que ingeriu, o que. pode incentivá-lo a comer demais.


7. Realizar exercícios físicos regularmente. A atividade física faz maravilhas para o humor e os níveis de energia, sendo assim uma excelente estratégia para reduzir o stress. Estes efeitos do exercício podem ajudar a lidar mais facilmente com a alimentação emocional. 


8. Dormir o suficiente à noite. Quando não dormimos o suficiente, o nosso corpo anseia por alimentos açucarados que possam promover uma rápida descarga energética. Descansar bastante ajudará no controle do apetite e na diminuição do desejo por comida.


9. Conectar-se com outras pessoas. Não subestime a importância dos relacionamentos e das atividades sociais. Quando não se consegue sozinho, é importante ter alguém da nossa confiança a ajudar ou monitorizar de forma positiva o nosso comportamento.


10. Gerenciar o stress e a ansiedade. Um dos aspetos mais importantes do controlo da ingestão alimentar compulsiva é encontrar formas alternativas de lidar com o stress e outros sentimentos avassaladores, sem usar os alimentos. Isso pode incluir a meditação, estratégias de relaxamento sensorial e a prática de exercícios simples de respiração por exemplo.


11. Procurar um profissional de saúde. As orientações individualizadas de como podemos melhorar a nossa relação com a alimentação são essenciais neste processo. Desta forma, o acompanhamento multidisciplinar de nutrição e psicologia será sempre o mais indicado.


Referências bibliográficas

• American Psychiatric Association (2014). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, Quinta Edição (DSM – 5). Lisboa: Climepsi Editores.

• Ágh, T., Kovács, G., Pawaskar, M., Supina, D., Inotai, A., Vokó, Z. (2015). Epidemiology, health-related quality of life and economic burden of binge eating disorder: a systematic literature review. Eat Weight Disord. Mar 1;20 (1):1–12.

• Hynes, M., Conway, R., McGuire, B. (2018). The Role of Self-Compassion in the Treatment of Eating Disorders: A Systematic Review. Irish Psychologist. Feb 1;44:74.

• Disponível em: https://www.helpguide.org/articles/eating-disorders/binge-eating-disorder.htm

• Alvarenga, M. et. al. (2019). Nutrição Comportamental. 2ª ed. Barueri – SP. Editora Manole.

• Vianna, M., Novaes, J. (2019). Compulsão alimentar: uma leitura psicanalítica. Polêmica, v. 19, n. 2, p. 084-103, maio/ago. 

• Catão, L., Tavares, R. (2017). Técnicas da Nutrição Comportamental no Tratamento dos Transtornos Alimentares. Ver Campo do Saber. Vol 3. Nº1. p. 244-261. jan/jun.

Marcela Bertulani (2892NE)


Marcela Bertulani 

Nutricionista Holmes Place Alvalade

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