Exercício físico e a Síndrome Metabólica

É muito comum o personal trainer observar aquando da avaliação física de um indivíduo que inicia a atividade física num ginásio, uma série de situações clínicas que correspondem a um quadro de síndrome metabólica. Este quadro clínico em que um indivíduo apresenta obesidade abdominal, diabetes tipo II, triglicéridos aumentados, colesterol aumentado e hipertensão, ou pelo menos três destas características, representa um desafio para o profissional responsável pela orientação do treino.

A síndrome metabólica é um conjunto de alterações de cariz metabólico, nomeadamente endócrinas e cardiovasculares que promovem o aumento de risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (artériosclerose e aterosclerose, angina de peito, enfarte, AVC e doenças das artérias coronárias), de hipertensão e de diabetes tipo II. Entre os fatores que predispõem um determinado organismo para este quadro clínico encontram-se o excesso de gordura corporal, a inatividade física, o tabagismo, a idade e a genética. 

Deste fatores enunciados à pouco o indivíduo terá a hipótese de intervir na questão do tabagismo, do exercício fisico que irá influenciar a constituição corporal e a sua quantidade de gordura corporal. O excesso de gordura corporal (em especial a gordura visceral) origina um desregule endócrino, promovendo menor secreção de adiponectina (menor regulação da glicémia sanguínea, menor utilização de ácidos gordos e menor protecção contra a degradação vascular) e maior secreção de leptina (menor sensação de saciedade, menor resposta imune e menor formação óssea e vascular). Torna-se assim imperativo para alguém com grande perímetro abdominal iniciar o quanto antes um programa de atividade física e uma dieta equilibrada que lhe permita reduzir esse fator de risco. 

Relativamente aos efeitos da prática regular de atividade física, sabe-se que previne e trata a hipertensão, reduz a sensibilidade à insulina reduzindo os valores de glicémia sanguínea, promove maior lipólise regulando os valores de triglicéridos e colesterol, regula os valores do peso e constituição corporal nomeadamente o perímetro abdominal. Aparentemente, o exercício fisico reduz a necessidade de utilização de medicação em doentes com síndrome metabólica, maiores quantidades de exercício fisico, independentemente da intensidade, estão associados a menor prevalência da síndrome metabólica e com a perda de pelo menos 10% do peso corporal em indivíduos obesos, observam-se melhorias nas funções metabólicas. Para iniciar ou reorganizar a atividade física, ninguém melhor que o personal trainer que terá em atenção a existência ou coexistência de um ou mais destas características para melhor adequar e organizar um planeamento que se adeque ao indivíduo. A par desta mudança na atividade física é de extrema importância regular a ingestão alimentar e reeducar o estilo de vida quanto ao descanso e ao stress.

Referências bibliográficas:

“Efeitos do treino com pouco volume, HIIT e MIIT, em pacientes obesos com síndrome metabólico”, Releic D., et al,Scientific Report 2021, Fev 02. 

“O exercício reduz utilização da medicação para gestão de síndrome metabólico”, Maria Rodriguez R., et al, Medicine Science Sports Exercise 2020, Dez 29.

“Associação de exercicio fisico leve, moderado e vigoroso, com a prevalência de síndrome metabólico em 4652 indivíduos de 70 anos de uma habitação comunitária”, Nordstorm A., et al, Journal of Aging Physical Activity 2021.(4) “The New ACSM FIIT exercise recommendations for hypertension.” 2019.

"Metabolic syndrome: A multiplex cardiovascular risk.” Grundy, S.M. 2007, Controversy in clinical endocrinology.

“Exercise and type 2 diabetes: the American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: a joint position statement.” Diabetes Care 2010.

”ACSM guidelines for exercise testing and prescription 10th edition.” Riebe D, et al,   2018.

Rui Branco

Regional Master Trainer e Personal Trainer

Holmes Place Gaia e Porto