Treino de força para crianças e jovens
Pode uma criança ou adolescente fazer treino de força?
Atualmente tem-se observado um aumento gradual da participação de crianças e jovens em programas de exercício físico que incluem o treino de força, ainda que a opinião entre diferentes profissionais da área da saúde relativamente a este aspeto continue a levantar algumas questões no que respeita ao seu impacto no desenvolvimento do
sistema músculo-esquelético.
Contudo, na última década, têm surgido evidências científicas que desvanecem esta preocupação ao salientarem a segurança e eficácia deste tipo de treino nestas faixas etárias (Faigenbaum, 2010; Faigenbaum et al., 2013; Lloyd et al., 2013), ressalvando, ainda assim, a importância do desenvolvimento de um programa de treino de força adequado, que considere as implicações musculares, ósseas e fisiológicas e as vantagens e riscos associados ao mesmo (Behm et al., 2008).
A sua pertinência tem recebido a atenção da Organização Mundial de Saúde e de outras organizações internacionais (e.g.: American Academy of Pediatrics; American College of Sports Medicine) ao proporem algumas diretrizes para a sua execução neste grupo populacional, realçando a atenção particular que deve ser dada às crianças pelo sistema músculo-esquelético ainda imaturo, a fim de evitar síndrome de stress por repetições a longo prazo, como o desenvolvimento de tendinites ou fraturas por stress (Pinto e
Ughini, 2017).
Nas crianças e jovens recomenda-se que o treino de força se baseie em atividades físicas comuns, lúdicas e/ou desportivas, respeitando um programa de treino físico geral com intensidade e volume adequado e controlado (Pinto e Ughini, 2017), de forma a proporcionar benefícios ao nível da força muscular, flexibilidade, agilidade e equilíbrio (Faigenbaum, 2007).
A sua prescrição é feita a partir de exercícios realizados em equipamentos de força adaptados ao tamanho corporal da criança/jovem, pesos livres (halteres e barras), fitas elásticas, medicine balls e exercícios com o peso corpo. São ainda aconselhados exercícios com barras sem pesos ou bastões de madeira com vista à promoção e aperfeiçoamento da execução e gesto técnico dos exercícios, antes da inserção de qualquer trabalho com cargas adicionais (Pinto e Ughini, 2017), e a progressão gradual de exercícios simples para outros de complexidade superior (Lloyd et al., 2013).
Neste processo, o trabalho de equipa entre o profissional de exercício físico e a criança/jovem deve ser um fator não descurado pois a promoção da consciência corporal, da segurança durante o treino, da sua motivação intrínseca e extrínseca e o desenvolvimento de uma visão positiva relativamente à prática desportiva e ao treino de força, aliada aos seus gostos e preferências, é fundamental.
Neste sentido, este é um tipo de treino com benefícios diversificados para a criança e jovem em várias áreas, nomeadamente:
- Prevenção de lesões: redução do risco de lesão desenvolvido pela prática regular do treino de força, aumentando a força nas estruturas de sustentação (ligamentos, tendões e ossos); aumento da resistência muscular e estabilidade articular (Pinto e Ughini, 2017).
- Saúde: melhorias na pressão arterial, densidade mineral óssea, massa corporal magra e gorda (Lloyd et al., 2013).
- Adaptações ósseas: Os estudos relatam que a infância e a adolescência são períodos favoráveis para a remodelação e modelamento dos ossos, devido às forças de tensão e compressão que estão associadas a este treino (Behm, 2008). Assim, atividades de moderada e alta intensidade e de impacto com o solo são benéficos para esta população (Pinto e Ughini, 2017).
- Composição corporal: redução do perímetro da cintura e anca e da gordura corporal em crianças e jovens obesos, sem qualquer interferência negativa no seu crescimento (Dietz et al., 2012)
- Fatores psicológicos: benefícios ao nível do bem-estar psicológico, humor e aumento de auto-estima (Scharanz et al., 2013), existindo ainda algumas indicações de que jovens envolvidos na prática deste tipo de treino têm, na vida adulta, menor incidência de desenvolvimento de sinais de alerta neste âmbito (Ortega et al., 2012).
Ficaram com dúvidas? Entrem em contacto com a equipa de profissionais de exercício físico de forma a responder a todas as questões.
Daniela Pinote, Personal Trainer Holmes Place
Bibliografia
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