Alimentação: o que devem comer os bebés?
A alimentação dos bebés no 1º ano de vida tem um impacto marcado na saúde e nos hábitos alimentares a curto e longo-prazo.
Ao longo dos últimos anos, os temas relacionados com alimentação têm ganho terreno pelo crescente interesse da população e pela maior consciencialização do seu impacto saúde. O caso da alimentação nos bebés não é exceção e deve ser explorado cuidadosamente para minimizar a tensão causada pelas dúvidas e incertezas que gera.
Mas afinal o que devem comer os bebés?
A alimentação no 1º ano de vida tem um impacto marcado na saúde e nos hábitos alimentares a curto e longo-prazo, pelo que é necessário investir precocemente numa alimentação saudável para aumentar a probabilidade destes hábitos serem mantidos o resto da vida.
Dos 0 aos 6 meses
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) é recomendada a exclusividade do aleitamento materno até aos 6 meses de vida do bebé no sentido de promover um crescimento, desenvolvimento e saúde adequados do lactente. Este é um meio acessível e económico e por ser um alimento muito completo é capaz de suprir as necessidades nutricionais do bebé durante este período. Os benefícios do aleitamento materno exclusivo associam-se a menor risco de doenças infantis como otites, gastroenterites, obesidade, diabetes entre outras situações clínicas.
Embora seja desejável o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida, na impossibilidade da sua manutenção ou na necessidade de o complementar, pode recorrer-se a fórmulas adequadas de acordo com as necessidades nutricionais do bebé. Após este período, o aleitamento materno deve prosseguir com o processo de diversificação alimentar.
Diversificação alimentar
A partir do 6º mês, o volume de leite ingerido pelo bebé deixa de ser suficiente para suprir as suas exigências nutricionais e passa a ser necessária a introdução de novos alimentos no sentido de colmatar as necessidades energético-proteicas e de alguns micronutrientes (como ferro, zinco, e vitaminas A e D).
Como tal, é neste momento que deve iniciar-se o processo de diversificação alimentar, que consiste na passagem de uma alimentação exclusivamente de leite (materno e/ou fórmula) para uma alimentação semi-sólida, que culmina com a adoção da dieta familiar por volta dos 12 meses.
Este é um processo que não deve ser visto de forma rígida, sendo que para o compreender é fundamental ter em consideração fatores de ordem individual, social, económica e cultural. Assim, a diversificação alimentar deve ser feita de forma consciente e informada para garantir uma alimentação nutricionalmente adequada para o bebé.
Diversificação alimentar: Quando e como?
Dos 6 aos 9 meses
Purés/Caldos de legumes
Os purés/caldos podem ser introduzidos a partir do 6º mês e deve ser dada preferência a legumes como cenoura, batata, abóbora, cebola, alho francês, curgete, alho, alface, brócolo e couve branca, agrupando-os entre 4 a 5 de cada vez. Paralelamente, deve adicionar-se 5 a 7 ml (aproximadamente 1 colher de chá) de azeite em cru a cada dose de puré ou caldo.
Inicialmente a textura do puré/caldo deve ser líquida, evoluindo progressivamente para uma textura cada vez mais sólida e heterogénea. A introdução de beterraba, nabo, aipo, nabiça e espinafres apenas é recomendada a partir dos 12 meses devido ao elevado teor de nitratos e fitatos.
Papas de cereais
As farinhas são introduzidos na alimentação dos lactentes ao 6º mês e podem ser preparadas com água (farinhas lácteas) ou com leite materno ou leite adaptado ao bebé (farinhas não-lácteas).
Estas farinhas podem ou não conter glúten (proteína presente no trigo, aveia, cevada e centeio), sendo que as recomendações atuais surgem no sentido da introdução do glúten nunca antes dos 4 meses nem após os 7 meses.
Fruta
A fruta pode ser introduzida por volta do 6º mês, nunca como uma só refeição e sempre de forma individual e não em purés de vários frutos.
Deve dar-se preferência a fruta da época, madura, crua ou cozida e esmagada ou ralada, oferecendo-a como sobremesa. Inicialmente deve oferecer-se fruta como maçã, pera, banana ou papaia e durante o primeiro ano de vida devem ser evitadas frutas potencialmente alergogénicas como morango, kiwi, maracujá e pêssego.
Relativamente aos sumos de fruta, a sua utilização é desaconselhada uma vez que podem diminuir o apetite, aumentar a procura do sabor doce e ter efeito laxante.
Carne e peixe
Este grupo de alimentos é caracterizado por ser um grande fornecedor de proteínas de alto valor biológico (AVB) e minerais como ferro e zinco.
A carne pode ser introduzida a partir do 6º mês, dando preferência a carne de aves (frango, peru e avestruz) ou coelho seguido de vitela, cabrito e borrego. A carne deve ser triturada e adicionada ao puré/caldo de legumes.
A introdução do peixe pode ser iniciada a partir do 7º mês com a oferta de peixes magros como pescada, linguado, solha e faneca. Idealmente, peixes com elevado teor de gordura como o salmão, apenas devem ser disponibilizados numa fase mais tardia (aproximadamente após o 10º mês) uma vez que podem conduzir a uma intolerância digestiva.
A porção inicial de carne ou peixe deve ser de aproximadamente 10g e aumentar gradualmente até aos 25-30g. A partir do 7º mês, esta dose pode ser oferecida toda numa só refeição (almoço) ou ser dividida nas duas refeições principais. Após os 7 meses, a carne ou peixe podem ser preparados com farinha de pau ou açorda e aos 8 meses, com arroz ou massa, sempre acompanhados de legumes.
Pão
O pão pode ser introduzido a partir dos 7 meses em formato de açorda de carne ou peixe e partir do 8º mês pode ser oferecido em pequenas quantidades para treinar a mastigação.
Água
A água deve ser a bebida de eleição e ser oferecida ao lactente em pequenas quantidades e várias vezes ao dia, sendo que não devem ser introduzidos qualquer tipo de chás, sumos de frutas naturais e/ou sumos artificiais.
9-12 Meses
Iogurte
O iogurte é um alimento muito completo, sendo fornecedor de proteínas de AVB, vitaminas e minerais, apresentando um importante papel pré e probiótico, o que pode potenciar a regularização e proteção da flora intestinal do bebé.
Pelas suas características o iogurte pode ser introduzido a partir dos 9 meses em pequenas porções diárias (150-200ml/dia) e ser oferecido ao lanche como alternativa ao leite ou papa. Os iogurtes devem ser naturais, sem aromas ou qualquer tipo de aditivo (açúcar, mel ou natas).
A introdução deste alimento pode ser uma boa alternativa à introdução precoce do leite de vaca, uma vez que este último não deve ser disponibilizado antes dos 12 meses de idade, sendo preferencialmente introduzido entre os 24 e os 36 meses.
Leguminosas
As leguminosas secas, nomeadamente o feijão, grão, ervilhas e lentilhas são consideradas nutricionalmente ricas e uma importante fonte de proteína de origem vegetal, hidratos de carbono complexos, fibras e alguns micronutrientes, como cobre, magnésio, cálcio, entre outros.
Este grupo de alimentos pode ser introduzido entre os 9 e os 11 meses, sempre bem cozinhados, inicialmente sem casca e em pequenas porções, sendo primeiramente adicionados aos caldos e posteriormente ao prato principal.
Ovo
À semelhança da carne e peixe, o ovo é um alimento rico em proteína e pode ser introduzido a partir do 9º mês, iniciando com a oferta de meia gema cozida por refeição por semana durante 2 a 3 semanas e posteriormente evoluir para 1 gema inteira cozida por refeição por semana.
A utilização da gema numa refeição implica a ausência de outro tipo de proteína como peixe ou carne.
No que diz respeito à clara, por ser potencialmente alergogénica só deve ser apresentada a partir dos 11 meses e caso exista um historial de atopia, esta só deve ser introduzida a partir dos 24 meses.
+12 Meses
A partir dos 12 meses recomenda-se que o bebé adote a alimentação de toda a família e, como tal é fundamental que esta seja variada e equilibrada, evitando alimentos com maior teor de gordura, açúcar e sal.
Conclusão
A alimentação constituí um dos pilares para o crescimento e desenvolvimento do bebé e como tal deve garantir que as exigências nutricionais do mesmo são colmatadas.
O processo de introdução de novos alimentos deve ser feito de forma gradual e paciente para que o bebé se consiga adaptar aos novos sabores e texturas. O sal e açúcar não devem ser oferecidos e a água deve ser a bebida de eleição, sendo oferecida várias vezes ao dia após o início do processo de diversificação alimentar.
Ao longo do 1º ano devem ser apresentados alimentos com textura progressivamente mais heterogénea e nunca mais do que 1 alimento novo por semana. Apesar das recomendações, a alimentação do bebé não deve ser vista de forma rígida pelo que a sintonia entre pais e bebé é fundamental para o sucesso deste processo.
Referências Bibliográficas:
- Acta Pediátrica Portuguesa. Alimentação e Nutrição do Lactente. Vol. 43, n.º 5 Setembro / Outubro 2012 Suplemento II
- Site OMS: http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/infant-and-young-child-feeding
- Site Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar (PASSE): http://www.passe.com.pt/public/upload/pdf/pontosnosii/diversificacao_alimentar.pdf
Sofia Costa Maia
Nutricionista Holmes Place