O efeito do exercício de alta intensidade e longa duração no sistema imunitário

Durante muitos anos acreditou-se que o exercício físico (de intensidade elevada e alta duração) poderia deprimir / suprimir o sistema imunitário, deixando os atletas vulneráves a infecções oportunistas.

Já há mais de um século que tentamos estudar os efeitos do exercício físico na nossa capacidade de resistir às doenças, sendo que os primeiros estudos relatados de 1900, no entanto, só em 1982 surgiram os primeiros estudos onde reportavam os efeitos adversos da atividade física. Numa prova de corrida (Two Ocean Race – ultramaratona 56km), dos 150 participantes 1/3 referiu ter URTI’s (Upper Respiratory Tract Infections), abrindo o debate sobre os efeitos supressores da imunidade do exercício físico.

Em 1987 na Los Angels Marathon em 2311 participantes 12,9% declararam ter tido URTI’s na semana seguinte à prova em comparação aos 2,2% que desistiram da prova (por outras razões que não seja doença do trato respiratório).

Estes números não se verificam em provas de 5km, 10km ou meia maratonas (21km), indicando que a duração do esforço físico influencia o resultado.



Nestes estudos foram encontrados várias falhas, uma delas era a autoavaliação dos atletas não confirmado clinicamente. Estudos posteriores cruzando a autoavaliação com um teste de colheita nasofaringica, indicaram que apenas 10 a 20% destes casos tinham diagnóstico laboratorial positivo para infeção viral ou bacteriana. Os restantes casos poderiam ser atribuídos a alergias, asma, inflamação não específica da mucosa ou até a simples exposição ao frio. É de referir que este tipo de atleta de competição ignora as condições atmosféricas adversas para treinar e os ambientes de treino nem sempre são os ideais.

Outro dos pontos em discussão é a possibilidade de transmissão de doenças durante os grandes ajuntamentos de pessoas (como no início das provas). Após a Hajj (peregrinação religiosa) 40% dos participantes relatam ter URTI’s… deixando de fora qualquer atividade física.

Estudos mais longos onde participaram 1212 ultramaratonistas, relatam que em 12 meses, os atletas referiram ter estado doentes em média 1,5 dias. Em outro estudo similar, 489 ultramaratonistas, em 12 meses referiram ter estado doentes durante 2,8 dias em média. Segundo os dados dos Estados Unidos da América (United States Department of Health and Human Services 2009) a população geral está doente 4,4 dias por ano em média.

Em resumo:

O exercício físico não diminui a nossa capacidade imunitária, mesmo sendo o exercício de alta intensidade e longa duração. Vários estudos demonstram na realidade o contrário, onde todo o tipo de exercício tem um efeito positivo na nossa capacidade de resistir às várias doenças, sejam elas do foro infeccioso, degenerativo ou oncológico, inclusivamente potenciam os tratamentos e vacinações.

Por essas e muitas outras razões, seja saudável e treine com regularidade.

Referências Bibliográficas:

Debunking the Mith of Exercise-Induced Immune Suppression: Redefining the Impact of Exercise on Immunological Health Across the Lifespan – John P. Campbell and James E. Turner

ACSM’s Exercise Testing and Prescription – Madeline P. Bayles et al. 2018

Paulo Ah Quin

Regional Master Trainer Holmes Place