Descubra os riscos do consumo excessivo de proteína
Os excessos são sempre perigosos. A proteína é importante mas o seu consumo deve ser moderado e adequado para a sua condição fisica e peso corporal.
As proteínas são as moléculas orgânicas mais importantes e mais presentes nas células sendo também as moléculas mais abundantes nos seres humanos. Como são constituídas por diferentes combinações de aminoácidos, possibilitam a formação de diversas estruturas que se traduzem em infindas formas de atuação no nosso organismo. Deste modo, elas podem ter várias funções, particularmente de: catalisadoras, transportadoras, proteção imunitária, estruturais, transmissão do impulso nervoso e armazenamento.
Existem proteínas de origem animal e de origem vegetal. As de origem animal surgem de alimentos como carne, queijo, ovos, iogurtes, leite e peixe. As proteínas de origem vegetal encontram-se em grande quantidade nos alimentos como a soja, as leguminosas, o tofu, a quinoa, as bebidas vegetais e nos frutos secos.
Qual o consumo aconselhado?
O consumo diário proteico deve ser calculado individualmente e especificamente, tendo sempre em conta a idade, o género, o tipo de atividade física, se há ou não condição de saúde ou alguma doença e qual o objetivo para desenvolvimento desportivo de cada individuo.
Em termos de quantidade, o Colégio Americano de Medicina Desportiva, em conjunto com a Associação Americana de Dietética e os Dietistas do Canadá recomendam a ingestão diária de 1,2 a 2,0g de proteína/kg de peso corporal. Estas recomendações especificas para atletas são superiores às da população em geral (0,8g/kg/dia), prendendo-se esta diferença com a necessidade de proteína para determinadas funções, como:
• Reparação e substituição de proteínas danificadas com o exercício físico ao nível músculo-esquelético, ossos, tendões e ligamentos;
• Manter a boa função de todas as vias metabólicas que utilizam aminoácidos;
• Permitir o aumento de massa muscular;
• Permitir uma boa função do sistema imunitário;
• Permitir uma taxa de produção ótima de proteínas plasmáticas.
Apesar deste aumento ser conseguido exclusivamente através da alimentação sem recurso à suplementação, verificou-se que o uso de suplementos proteicos continua a ser uma das estratégias mais utilizadas pelos atletas portugueses.
As dietas de elevado teor proteico defendem que grande parte dos hidratos de carbono devem ser evitados, tentando assim compensar as necessidades do organismo com alimentos ricos em proteína e gorduras. Normalmente os alimentos ricos em proteína mais utilizados são os de origem animal e não vegetal, pois estes possuem um elevado teor de hidratos de carbono.
Quais as consequências de um consumo excessivo?
A longo prazo, as possíveis consequências de uma elevada ingestão de proteínas manifestam-se geralmente a nível cardiovascular e renal. Já nos atletas, é possível existir um impacto negativo deste comportamento, especialmente ao nível da massa óssea e da função renal, sendo ainda objeto de estudo que tem vindo a ser desmistificado.
O aumento do risco de doenças cardiovasculares é sugerido pelo consumo excessivo de proteínas animais, que estão associadas a um aporte de gorduras (saturada e colesterol). No entanto, em alguns estudos recentes, observou-se que o aumento do consumo de proteínas associado a uma diminuição do consumo de hidratos de carbono levou a uma diminuição dos níveis de LDL (mau colesterol) e aumento do bom colesterol (HDL), havendo também uma diminuição importante de triglicerídeos.
No que diz respeito à sobrecarga renal, a ingestão proteica, em contraste com a ingestão de gorduras ou de hidratos de carbono, influencia a hemodinâmica renal, estimando-se que o consumo excessivo de proteína resulte em sobrecarga, devido ao aumento da taxa de filtração glomerular (filtração dos rins). Este tipo de alimentação também evidencia o aumento do volume renal e o peso do rim. No entanto, o efeito hemodinâmico a longo prazo no rim saudável não é bem compreendido. Também se sabe que um elevado consumo de proteínas predispõe à formação de cálculos renais (pedras nos rins).
Uma alimentação completa, equilibrada e variada, com maior apetência para alimentos da época e evitando alimentos processados, é fundamental para a manutenção de uma boa condição física e de saúde. Um consumo elevado de proteínas deve ser compensado com vegetais e frutas de forma a anular a acidez proveniente de uma dieta hiperproteica. De igual forma deve também ser acompanhada de um maior consumo de água, favorecendo a excreção da ureia (substância resultante da digestão de proteínas da alimentação que, se em excesso no organismo pode provocar toxicidade). E lembre-se: qualidade não é sinónimo de quantidade!
Libânia Braga
Nutricionista Holmes Place Arrábida
Referências Bibliográficas:
1. Jequier E, Tappy L. Regulation of Body Weight in Humans. Physiol Rev 1999;79:451-480. Available at: http://physrev.physiology.org/cgi/content/abstract/79/2/451.
2. Force NT. Weight cycling. National Task Force on the Prevention and Treatment of Obesity. JAMA 1994;272:1196-202. doi:10.1037/e565492010-001.
3. Khawandanah J, Tewfik I. Fad Diets: Lifestyle Promises and Health Challenges. J. Food Res. 2016;5:80. doi:10.5539/jfr.v5n6p80.
4. Amigo I, Fernández C. Effects of diets and their role in weight control. Psychol. Health Med. 2007;12:321-327. doi:10.1080/13548500600621545.
5. Mehta T, Smith DL, Muhammad J, Casazza K. Impact of weight cycling on risk of morbidity and mortality. Obes. Rev. 2014;15:870-881. doi:10.1111/obr.12222.
6. * JRC, ** MFC de S, ** KMOA, ** SGO, ** AAL, Bergamini** CPDO. O impacto do peso flutuante sobre fatores de risco cardiovascular em mulheres obesas. HU Rev. Juiz Fora 2015;41(3 e 4):143-148. Available at: https://hurevista.ufjf.emnuvens.com.br/hurevista/article/viewFile/2408/836.
7. Mason C, Foster-Schubert KE, Imayama I, et al. History of weight cycling does not impede future weight loss or metabolic improvements in postmenopausal women. Metabolism. 2013;62:127-136. doi:10.1016/j.metabol.2012.06.012.
8. Garcia R. Transtheoretical Model Key Constructs Applied to the Intervention & Treatment of Weight Cycling & Yoyo Dieting: Cognitive-Affective Bases of Health for Weight Management. Int. J. Complement. Altern. Med. 2016;3:2-5. doi:10.15406/ijcam.2016.03.00071.
9. Sousa, M., et al., Nutritional supplements use in high-performance athletes is related with lower nutritional inadequacy from food. Journal of Sport and Health Science, 2015. in press.
10. Sousa, M., et al., Nutritional supplements usage by Portuguese athletes International Journal for Vitamin and Nutrition Research, 2013. 83(1): p. 48-58.
11. Rodriguez, N.R., N.M. Di Marco, and S. Langley, American College of Sports Medicine position stand. Nutrition and athletic performance. Medicine and Science in Sports and Exercise, 2009. 41(3): p. 709-731.
12. Institute of Medicine, Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids (Macronutrients). 2005, Washington, DC: The National Academies Press.
13. Bonjour, J.P., Dietary protein: An essential nutrient for bone health. Journal of the American College of Nutrition, 2005. 24(6 SUPPL.): p. 526S-536S.
14. Phillips, S.M., Dietary protein requirements and adaptive advantages in athletes. British Journal of Nutrition, 2012. 108(SUPPL. 2): p. S158-S167.